Mad World
"When people run in circles, it's a very very mad world..."
O verso é da canção "Mad World" da banda Tears for Fears, lançada no início dos anos 80. Mas a versão que escuto ao escrever este post é mais recente, do início dos anos 2000 e interpretada por Gary Jules, em uma pegada mais emotiva e simplificada.
Sobre a letra, Curt Smith, seu intérprete original no Tears for Fears, diz: "É muito mais uma canção de voyeur. É como olhar para um mundo louco através dos olhos de um adolescente."
Desde pequena, lembro de me pegar pensando, de repente, em como o meu humor, ou como a maneira em que eu me sentia num determinado momento, era definido por um conjunto de circunstâncias que nem sempre tinham a ver comigo (exceto pelo fato gritante de que era eu que racionalizava e interpretava a coisa toda, mas enfim.). Como um dia chuvoso e cinza, visto de dentro de um carro em movimento fazia o mundo parecer mais cruel, mais difícil de se viver. Como o mundo visto de uma rua menos movimentada à noite parecia perigoso e hostil. Como uma tarde de sol na cozinha de casa, enquanto o gatinho dormia junto à porta do quintal parecia ideal, cheia de sonhos de um futuro bom e alegre.
Essas impressões sempre me pareceram dadas pelo conjunto do que me cercava, o ambiente, a luz, a hora do dia, a condição climática, os sons, as companhias. Eu só estava observando, e percebendo aos poucos que meus sentimentos podiam ser influenciados por essas coisas todas. Mas sempre imaginava que se eu percebia aquilo, então certamente todos deveriam ter a mesma percepção.
Não sei dizer se estas impressões determinavam meus sentimentos ou se o oposto era verdade. Muito menos se alguém me acompanhava na viagem.
Mas ainda me pergunto qual era de fato o caso.
Ultimamente, estes flashes de sensações são menos comuns, mas um conjunto de dados, de experiências e de informações, que se acumula ao longo de dias, de meses, me passa uma outra impressão, menos fugaz e mais profunda: a de que estamos todos doentes, loucos, indo mal.
É o conjunto de tanta coisa, que nem sei se conseguiria listar. São as pessoas que precisam passar na sua frente em qualquer oportunidade, nem que seja para chegar a lugar nenhum, nem que seja para pegar o mesmo trem que você, parar no mesmo semáforo, desde que estejam na sua frente. É a falta de comunicação, em meio a tantos posts em tantas redes sociais. É o distanciamento dos amigos, dos parentes. É a dificuldade em encontrar alguém que preste atenção ao que você diz, ao que você mostra, ao que você sente. É a descrição do que fizeram com o cavaleiro inglês quando perdeu uma batalha na Idade Média. Ou do que seu rei fez com os escoceses quando consegui sua revanche. São os testes nucleares da Coréia do Norte. É a maneira como nos tratamos, como tratamos outros povos. A maneira como tratamos os animais. É a mãe que puxava a menina de rosto quase todo queimado pela rua do lado do hospital, como se a menina já não tivesse motivos suficientes para sofrer nessa vida. São as pessoas te atacando com as suas próprias opiniões cada vez que você tenta dar a sua. É a necessidade de estarmos certos o tempo todo. É um tudo, que não cabe aqui descrever. Olhando o conjunto, me parece um mundo muito doente, muito louco, a canção faz sentido: It's a very, very mad world.
Gostaria que esta impressão fosse menos duradoura e mais fugaz. Que passasse logo, pois me tira um pouco o fôlego estar imersa nela; me tira um pouco o sossego tamanho pessimismo de minha parte.
Me pergunto se tudo que observo acaba definindo meus sentimentos, ou se o oposto será verdade. Me pergunto também se alguém mais me acompanha nesta viagem.
O verso é da canção "Mad World" da banda Tears for Fears, lançada no início dos anos 80. Mas a versão que escuto ao escrever este post é mais recente, do início dos anos 2000 e interpretada por Gary Jules, em uma pegada mais emotiva e simplificada.
Sobre a letra, Curt Smith, seu intérprete original no Tears for Fears, diz: "É muito mais uma canção de voyeur. É como olhar para um mundo louco através dos olhos de um adolescente."
Desde pequena, lembro de me pegar pensando, de repente, em como o meu humor, ou como a maneira em que eu me sentia num determinado momento, era definido por um conjunto de circunstâncias que nem sempre tinham a ver comigo (exceto pelo fato gritante de que era eu que racionalizava e interpretava a coisa toda, mas enfim.). Como um dia chuvoso e cinza, visto de dentro de um carro em movimento fazia o mundo parecer mais cruel, mais difícil de se viver. Como o mundo visto de uma rua menos movimentada à noite parecia perigoso e hostil. Como uma tarde de sol na cozinha de casa, enquanto o gatinho dormia junto à porta do quintal parecia ideal, cheia de sonhos de um futuro bom e alegre.
Essas impressões sempre me pareceram dadas pelo conjunto do que me cercava, o ambiente, a luz, a hora do dia, a condição climática, os sons, as companhias. Eu só estava observando, e percebendo aos poucos que meus sentimentos podiam ser influenciados por essas coisas todas. Mas sempre imaginava que se eu percebia aquilo, então certamente todos deveriam ter a mesma percepção.
Não sei dizer se estas impressões determinavam meus sentimentos ou se o oposto era verdade. Muito menos se alguém me acompanhava na viagem.
Mas ainda me pergunto qual era de fato o caso.
Ultimamente, estes flashes de sensações são menos comuns, mas um conjunto de dados, de experiências e de informações, que se acumula ao longo de dias, de meses, me passa uma outra impressão, menos fugaz e mais profunda: a de que estamos todos doentes, loucos, indo mal.
É o conjunto de tanta coisa, que nem sei se conseguiria listar. São as pessoas que precisam passar na sua frente em qualquer oportunidade, nem que seja para chegar a lugar nenhum, nem que seja para pegar o mesmo trem que você, parar no mesmo semáforo, desde que estejam na sua frente. É a falta de comunicação, em meio a tantos posts em tantas redes sociais. É o distanciamento dos amigos, dos parentes. É a dificuldade em encontrar alguém que preste atenção ao que você diz, ao que você mostra, ao que você sente. É a descrição do que fizeram com o cavaleiro inglês quando perdeu uma batalha na Idade Média. Ou do que seu rei fez com os escoceses quando consegui sua revanche. São os testes nucleares da Coréia do Norte. É a maneira como nos tratamos, como tratamos outros povos. A maneira como tratamos os animais. É a mãe que puxava a menina de rosto quase todo queimado pela rua do lado do hospital, como se a menina já não tivesse motivos suficientes para sofrer nessa vida. São as pessoas te atacando com as suas próprias opiniões cada vez que você tenta dar a sua. É a necessidade de estarmos certos o tempo todo. É um tudo, que não cabe aqui descrever. Olhando o conjunto, me parece um mundo muito doente, muito louco, a canção faz sentido: It's a very, very mad world.
Gostaria que esta impressão fosse menos duradoura e mais fugaz. Que passasse logo, pois me tira um pouco o fôlego estar imersa nela; me tira um pouco o sossego tamanho pessimismo de minha parte.
Me pergunto se tudo que observo acaba definindo meus sentimentos, ou se o oposto será verdade. Me pergunto também se alguém mais me acompanha nesta viagem.
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