Vital

A beleza exerce um enorme papel em nosso humor. Quando chamamos uma casa de bela, o que realmente estamos dizendo é que gostamos do modo de vida que ela sugere. Tem uma atitude pela qual somos atraídos - se fosse transformada em uma pessoa, gostaríamos dela, com certeza. Seria ótimo que pudéssemos permanecer sempre com o mesmo humor, independentemente do lugar em que nos encontramos. Infelizmente, somos vulneráveis às mensagens codificadas que emanam dos ambientes. Isso ajuda a explicar nossos sentimentos em relação à arquitetura e à decoração e também nos ajuda a decidir quem somos. Claro, a arquitetura sozinha não nos transforma em seres felizes. Basta lembrar das insatisfações que nos ocorrem mesmo em ambientes idílicos. Alguém pode dizer que a arquitetura nos sugere um humor que não somos capazes de captar quando estamos internamente perturbados. Mas seus efeitos podem ser comparados ao tempo: um dia lindo pode mudar nosso estado mental - e as pessoas se dispõem a sacrifícios por um clima ensolarado. Entretanto, sob o peso de grandes problemas românticos ou profissionais, não há céu azul ou moradia incrível que nos façam sorrir. Daí a dificuldade de tentar transformar a arquitetura numa prioridade política: ela não possui as vantagens da água limpa ou de um suprimento de comida. E mesmo assim permanece vital.
- Alain de Botton

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