O que se faz da esperança.

Estava cheia de esperança. Em sua mente, imaginava como seria o futuro, como seria o reencontro, como seria a descoberta do amor suspeitado, como seria sua vivência. Sabia que não deveria encher a cabeça de sonhos, pois a realidade tem a irritante mania de seguir o caminho oposto à eles, deixando apenas decepção nos corações sonhadores.
Mas a alegria perante as possibilidades de tudo que estaria por vir, o amor que começava a sentir, que se permitia sentir, que deixava crescer e que acalentava como a um filho dentro de si, tudo isso a impedia de refrear os devaneios, de encarar os fatos e reconhecer a realidade. Nem estava lá, nem estava perto, o objeto de sua afeição desconhecia tal afeição. Os sonhos viviam dentro dela e não nele. Não eram dele. Se um dia chegaram a ser, devem ter morrido por alguma razão qualquer. E foi justamente isso que ela recebeu: uma razão. Uma razão para deixar a imaginação de lado e encarar os fatos. A vida era bem diferente do mundo criado em sua mente. Ninguém a esperava, ninguém ansiava pela descoberta do amor suspeitado ou pela vivência do mesmo. Já viviam outros amores, tinham outros sonhos. Só não sabia agora o que fazer com os sentimentos. Não sabia se se livrava deles como algo a que se tem asco, atirando-os a qualquer canto e virando-lhes as costas, voltando-se a qualquer nova faísca de esperança. Ou se continuava a acalenta-los, na esperança de um dia poder ser correspondida, de poder enfim, partilhar seu amor com o ser amado. Não sabia, estava perdida.


Nathalie Alves




Comentários

Anônimo disse…
Sempre muito inspirada ...

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